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O lado perverso da solidariedade

Passou, recentemente, na RTP1 uma reportagem sobre o lucro que uma organização sem fins lucrativos obtinha com campanhas de recolha de roupa. Já não é primeira vez que tal assunto vem a debate e outras organizações têm sido acusadas de usar a caridade para fins económicos. Ora, essa situação acentua-se ainda mais numa altura do ano em que estas campanhas proliferam em toda a parte.


Todavia, para além deste “abuso” incorreto de ações de caridade e da usurpação da mensagem que transmitem, estas ações de caridade trazem ainda outra questão adjacente, e com consequências maiores, que se prende com o “lado perverso da solidariedade” e o perpetuamento da pobreza…


Reparem como diferenciei ambos os termos, caridade e solidaridade. A caridade, enquanto ação única, é insuficiente e não produz desenvolvimento social. É certo que responde a necessidades básicas primárias, que devem ser colmatadas, como a fome, a sede ou o vestuário, no entanto, tomemos, como exemplo, a questão dos sem-abrigo, realidade cada vez mais presente em Portugal e com a qual também já contactei sendo voluntário numa organização.

Multiplicam-se no nosso país o número de associações e até pessoas a nível individual, que se desdobram em ações de distribuição de refeições que, como disse, é fundamental, mas depois não há qualquer trabalho complementar a esse, o que, muitas vezes, acaba por deixar muitas pessoas em situação de sem-abrigo em circunstâncias de dependência e, consequentemente, com maior vulnerabilidade social, dependentes daquelas refeições diárias. É a velha história do “dar o peixe”, quando se deve “ensinar a pescar”.


Não quero, contundo, dizer que se devam abandonar este tipo de intervenções de cariz mais assistencialista. Defendo é que se deve trabalhar com as pessoas, promovendo a cooperação entre os vários organismos presentes e com o poder político, na concretização de verdadeiras políticas sociais. É um trabalho contínuo, a longo prazo, mas que trará melhores frutos.


Daí ser nossa responsabilidade, estudantes num Instituto de Ciências Sociais, transmitir e elaborar correctas iniciativas de solidariedade, que promovam a capacitação dos beneficiários e que sensibilizem a sociedade civil para esse mesmo fim, que passem o termo da “caridade” para uma verdadeira finalidade de “solidariedade”.



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