top of page

"Vis unita fortior: a audácia da liberdade"

Numa terra abundante em sol, clima e condições atmosféricas, propícia e de solo fértil há uma cultura - que por muito da sua história, muito marcada pela preponderância da tirania imposta por terceiros, como é o caso do Congo Belga, a puramente incompetente e perigosa gestão tirana auto imposta, como é o caso Mugabe, até à bizarra autocracia, como é o caso da Gâmbia - é claro que falo da cultura da democracia, que por muito irrisórias condições, falo da dicotomia de falta de cultura, e abundância da cultura que no continente mais prolifera, além da agrícola: a da força armada, a cultura do interesse, do bem estar do clã em detrimento do bem estar comum, pouco a nenhum sucesso teve, e raiz dificilmente encontra. Pois bem, este também é um continente onde quem semeia ventos, colhe tempestades - o continente sendo a África, e cultivador, Yahya Jammeh da Gâmbia.


No passado (nosso) dia da Independência, o eleitor Gambiano saiu à rua, e contra tudo e contra todos - é de notar que, não só a oposição, enfrentou tenebrosas tempestues, como também todos os meios estratégicos de organização pelas oposições de mobilização, cruciais a bom rendimento de voto em qualquer eleição, como o Viber e Whatsapp se encontrarem proibidos no dia de eleição, chegando ao absurdo, ao rescindir vistos a qualquer observador eleitoral - saiu à rua para declarar uma independência muito almejada, não de uma tirania imposta por alheios, mas de um ditador - na igual medida insano, ao proclamar em 2008 que esquartejaria qualquer LGBTQIA que encontrasse, e bizarro, ao dizer que ele pessoalmente, apesar de ter pavor a bruxedos, consegue curar (aparentemente aliado de magia, quiçá, using the force) pessoalmente a sida e asma, e, numa nota mais sinistra, sanguinário, ao ordenar en masse, de acordo com a amnistia em 2012, a morte sumária de inúmeros prisioneiros, tal como em 2000 de estudantes a exercitarem os seus direitos cívico políticos de protesto.


Quem foi então o “Carlos Martelo” que, em condições tão adversas, batalhando por descampados de guerras num país nunca antes desbravados - conseguiu, numa batalha tão semelhante à de Tours, por termo tão repentino a tal subjugação do seu país ao avanço da subjugação à sharia? Trata-se de Adama Barrow, proprietário de uma firma de Real Estate, na República Islâmica da Gâmbia, que ao conseguir o impossível - encabeçar uma coligação dos 7 principais partidos de oposição ao até agora 'Mansa Musa' (como coloquialmente se refere em Portugal, à luz do caso BES, de “Dono Disto Tudo”) - e não só derrotar o 'grande chefão', como quebrar a sua irrevogável promessa de, com a bênção de Allah, reinar pelo próximo bilião de anos - fazendo os já 22 meros anos que governa uma mera vulgaridade (!) - concedendo sem papas na língua a eleição a Barrow. Pois bem, parece que o povo pouco mais podia esperar para aplicar o “coup de grace” na moribunda presidência de Jammeh - apesar de vasta a maioria que votou neste 'jogo do berlinde' - não só figurativamente, ao se lidar com um complexo jogo de estrategia, como literalmente, ao se, ao invés de votar com papel, berlindes - esperar a manutenção do ditador pelo menos por mais um milhão (nesse aspecto nem Kim Jong Un é tão megalómano).


Num caso tão paradigmático para um continente tão acostumado à trilogia "fome, guerra e tirania", a Gâmbia junta-se a um grupo restrito de países que, ao pela primeira vez se prepararem - isto é, se a sede pelo poder de Jammeh não voltar ao de cima - para testemunhar a pacífica transição de poder em Democracia - e que dessa forma procuram a pouco e pouco inverter da anterior ignominiosa trilogia de miséria, para uma de ambição, prosperidade e bem estar, pretendendo arrebatar o status quo com uma 'Revolução Silenciosa', que sendo encorpada pelo voto, em detrimento de uma revolução per se - pode pular à frente do terror Robespierre - e proclamar uma nova era de "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" pelos cantos e recantos deste berço da Humanidade.


Num continente em que a “lanterna de Apolo” intensamente brilha, mas onde o verdadeiro sol da liberdade não tem tamanho escopo - a pequena planta que agora com parcos raios de luz - quer provenientes do caso da Gâmbia, quer do da Nigéria, que também pela primeira vez, no ano passado, testemunhou a “excentricidade” de uma coisa para nós, Ocidente, tão banal: a transição democrática e pacífica de poder – promete uma nova vegetação, uma nova realidade por estas pastagens - não obstante trata-se de uma planta, de democracia e liberdade, que por si murchará, ou pior, será certamente ceifada, tornando-se imperativo ao ocidente que provenha o adubo necessário para que dessa planta se faça um pomar, em que as maçãs sejam o tudo o que um diamante de sangue não é: erradicando-se pouco e pouco no continente a tirania, polinizando-se liberdade, o clãnismo, polinizando-se fraternidade, efectivo apartheid moderno com igualdade.


O ocidente de facto tem tido, em particular os EUA, uma relação contenciosa (para mais não explicitar) com o conceito de exportação de Democracia. Líbia, Cuba, Vietname surgem em mente. No entanto trata-se, nas palavras do formidável Presidente-eleito, de uma “nova esperança” para a África (esperemos que o império não contra-ataque!) - e uma boa oportunidade, não para emolumento, mas sim para o Ocidente moralmente pagar a sua dívida aos povos Africanos - chamemo-los de reparações de guerra - para que possamos ajudar Moisés a liderar os vários povos oprimidos e amordaçados, fora das correntes do faraó para a terra prometida - ou seja, ajudemos líderes como Buhari e Barrow a quebrar este paradigma de "fome, guerra e tirania", e gradualmente transformar África numa bela visão de liberdade, paz e prosperidade como nunca antes contemplada. A união faz a força - só com ela se dará no Mundo, em uníssono, o berro da audaz nova era moderna.


Vis unita fortior!


bottom of page