Uma questão de educação
Aplaudir alguém ou um discurso, nem sempre é sinal de concordância com o que foi dito, mas sim de respeito. El Rei de Espanha, Filipe VI, esteve em Portugal numa visita que, segundo informa a página oficial da Presidência da República, “teve várias dimensões que atestam a diversidade da relação entre os dois países e os dois povos”.
Entre jantares, visitas aqui e acolá, registou-se um momento de particular curiosidade. Filipe VI discursou em plena Assembleia da República para um plenário de deputados e convidados, onde falou sobre a Europa e como esta contribui para os países ibéricos e vice-versa, sobre as relações entre os dois países e mais alguns assuntos. Falou em língua portuguesa o que, apesar de acompanhada por um sotaque castelhano, demonstrou grande respeito por parte do monarca pelo local onde estava.
Terminado o seu discurso, o Rei de Espanha recebe uma grande ovação de todos os deputados e convidados. Mas é aqui que começa a peripécia. A ovação fez-se ouvir de todas as bancadas à exceção da do Bloco de Esquerda, que nem se levantou, e da do Partido Comunista, este último, que em forma de respeito, esteve de pé durante toda a aclamação. Atitude que poderia ser de pasmo para muitos, não deixou admirado quem está acostumado às peripécias dos bloquistas, conforme atesta Rui Almeida, ex deputado do CDS, na sua publicação numa rede social, durante a onda de contestações que se verificou, “compreendo a repulsa e a indignação, não compreendo o espanto”. O BE prontamente se defendeu, fundamentando que não naturaliza relações de poder com base em relações de sangue e não em atos democráticos, daí ter permanecido sentado.
Esta questão podia ter sido um acontecimento que rapidamente estaria esquecido, no entanto, e apesar de já terem passado uns largos dias depois deste episódio, ficou-me na memória e não consegui olvidar toda esta falta de respeito para com os representantes de um país que prevê, constitucionalmente, uma monarquia que tem vindo a honrar a democracia espanhola.
A juntar à festa, eis que observamos o partido a afirmar que não naturaliza relações de poder sem terem por base atos democráticos, mas a saudar, expressão empregue no seu comunicado oficial, a memória de Fidel Castro aquando do seu falecimento.
É então que caio em mim e me deparo com um Bloco de Esquerda que recusa aplaudir e até mesmo respeitar alguém que honra a democracia no seu país, mas que saúda um líder que conteve em si o poder em Cuba por décadas e, mais grave ainda, permitiu que o seu povo vivesse na penúria enquanto este vivia uma vida de luxo máximo, ao contrário da hipócrita imagem de sacrifício que apregoava publicamente, tendo mesmo uma fortuna pessoal avaliada pela revista Forbes perto dos 900 milhões de euros.
A conclusão a que chego é que a bancada do Bloco de Esquerda apenas honra quem partilha minimamente da sua ideologia, independentemente das suas ações, e não apresenta um pingo de educação por alguém que respeita a democracia no seu país porque, simplesmente, não está identificado com os seus ideais. Questiono-me: representa, efetivamente, este partido, mal-educado por sinal, o povo português?
Este artigo de opinião é da responsabilidade do Autor. O Cacique está recetivo a todas as ideologias políticas, ou seja, todas estas terão a oportunidade de serem defendidas!