top of page

“A uma espécie de consumo consciente”

- Greenme, 04 Fevereiro de 2016: "Nestlé admite exploração de trabalho na Tailândia"

- TheUniplanet, 09 Fevereiro de 2016: "As sete marcas de chocolate que utilizam trabalho escravo infantil"

- RR.Sapo, 24 Outubro de 2016: "Crianças refugiadas fazem roupas para Zara, Mango e outras grandes marcas"

- Expresso, 30 Novembro de 2016: "Unilever e Nestlé entre as nove marcas globais que contribuem para a exploração no trabalho"

- NaçõesUnida.Org, 02 Dezembro de 2016: "Crianças estão vulneráveis às piores formas de trabalho forçado, alertam especialistas da ONU"


São repetitivos e cíclicos este género de notícias impertinentes que nos molestam e incomodam o bem estar, pois não nos podemos deixar afectar pelo que os observadores do 3º mundo nos relatam. Observadores estes que, num esforço de mostrar a realidade contemporânea, enviam relatórios sobre discriminação, trabalho forçado e exploração infantil.


Como reagimos? Indolentes, deixamos de lado o pedaço de notícia que nos alerta e com uma presunçosa hipocrisia pensamos "coitadinhos". Não passa de uma compaixão que rapidamente se dissipa como fumo, trocada de imediato pela ansiedade dos problemas do dia a dia: o trabalho, os filhos, as compras, as contas... "Meu Deus, a minha vida!!" – exclamamos de egoísmo, sem qualquer noção da fortuna que carregamos e da sorte de se ser Ocidental. Observamos o céu de narcisismo que cobre hoje o mundo Ocidental e condescendentes apreciamos o seu resultado, como se de virtude se tratasse.


2016 marcou os 90 anos de acordo feito entre os estados membros da antiga Liga das Nações afim de eliminar a prática da escravatura. 90 anos se passaram e 21 milhões de pessoas vivem em situação de trabalho forçado. Indonésia, Costa do Marfim, Turquia e Tailândia são alguns dos países onde as mínimas condições de segurança e higiene não existem, onde a remuneração está bem abaixo do salário mínimo respectivo, onde a discriminação e a exploração ainda prevalece e onde multinacionais e governos fazem acordos para fechar os olhos a esta nova escravatura contemporânea. Estas multinacionais, tão bem conhecidas por nós, consumidores ávidos, que nos mimam todos os anos com novos produtos, lucram milhares de milhões e são incapazes de fazer alguma coisa para evitar o tratamento atroz dos trabalhadores da sua cadeia de fornecedores. Ora se este inferno de "Hades" lhes dá lucro e se os fracos e corruptos governos pouco fazem para colocar um fim, só resta ao consumidor...


Até quando nos vamos vestir e alimentar do sofrimento dos outros? O chocolate doce e adversário da carência é para outros amargo e cruel. Até quando vamos permitir que mais de metade do mundo viva e trabalhe em sofrimento para que o resto possa ter a mesa ou no guarda-fato os produtos que mais aprecia? Este resto de que faço parte, este pequeno resto hostil, egoísta e materialista.


Não é necessário que grandes marcas ofereçam produtos manchados da exploração infantil e do trabalho forçado e é enquanto consumidores que podemos provocar mudanças, através da procura de produtos que sejam fabricados e distribuídos sob uma política sustentável que visa uma preocupação social, ecológica e económica; mas também um olhar suportável, viável e equitativo. Este tipo de marcas já existe no mercado, só temos de começar a escolhê-las para que possam ter espaço no mercado global controlado pelo absolutismo das multinacionais.


A 8ª meta do Objectivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) - Trabalho decente e crescimento económico – exige da comunidade internacional ações imediatas e efectivas para erradicar o trabalho forçado, a escravidão moderna e o tráfico humano. Vamos também nós trabalhar para este objectivo com pequenas acções, ao mudarmos os nossos critérios de escolha de certos produtos, ao informarmo-nos sobre a sua origem e produção. E assim aos poucos conseguimos alterar o percurso que há muito foi tomado e destrói a vida de milhões de vidas humanas.


É certo que muito mais tem de ser feito... mas nós como consumidores, ao comprar, escolhemos o tipo de mundo onde queremos viver, e assim, com uma espécie de consumo consciente podemos restaurar a humanidade que nos resta.



bottom of page