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“Error 404: Equality not found”

Por que é que o feminismo é necessário?


O termo já foi tão arrastado na lama que, hoje em dia, afirmar-se como “feminista” é um gatilho que aciona bocas de todas as direções, como se se de um insulto se tratasse.


Pois bem, lamento informar, mas uma feminista não é uma mulher enraivecida que anda por aí a queimar soutiens. Uma feminista não é uma mulher que odeia homens. Uma feminista não é uma mulher que está menstruada e por consequência, revoltada com o mundo. Ela está revoltada sim, mas não é por estar menstruada – é pelo facto de ter menstruação anular todas as suas razões legítimas.


Vou apenas abordar os temas que movem a necessidade de feminismo na mulher ocidental – são aqueles que com os quais me identifico, todos os dias. Sim, porque no outro lado do mundo ainda há mulheres que não podem votar, ainda há mulheres que não podem conduzir, ainda há mulheres que… mas isto é um artigo, não uma Bíblia. E não é uma questão de narcisismo nem arrogância nem ganância - mas lá porque na outra ponta do globo há alguém pior que nós, não quer dizer que aqui esteja tudo bem. Não temos de nos conformar com uma realidade que ainda não está correcta.


O facto de nós, mulheres, reclamarmos direitos para nós e apontarmos os problemas que nos são comuns, não anula que os homens também os tenham. Eu também defendo que os homens têm de tentar viver segundo expectativas irrealistas de ‘’masculinidade’’. Eu também defendo que os homens podem chorar e não são por isso menos homens. Eu também defendo que alguns homens sofrem de violência doméstica, mas têm demasiada vergonha de fazer queixa. Eu também defendo que é injusto entrar de borla numa discoteca enquanto que aos homens lhes é cobrado 10€. Mas aparentemente os homens só se lembram de falar da existência desses erros quando uma mulher está a reclamar os seus direitos. Se um homem me diz “pára de te queixar do problema X porque a comunidade masculina tem o problema Y”, desculpa, mas não terás a minha atenção. Tu falas do teu problema para anular o meu. Tu levantas a tua voz para silenciar a minha.


Imaginem um mundo em que os nossos corpos não são usados para manobras de marketing.


Imaginem um mundo em que não ouço a piada do “vai para a cozinha” ou “essa sandes não se vai fazer sozinha”. Às vezes ainda fico na dúvida se me deva revoltar ou rir. Não é que eu não tenha sentido de humor. É apenas que essa piada há muito que perdeu a piada. (Querem apostar que após este artigo ser publicado haverá na caixa de comentários algum tipo de gracinha machista?).


Imaginem um mundo em que eu não tenho medo de andar sozinha na rua às 2 da manhã. Imaginem um mundo em que posso usar uma saia da altura que eu quiser sem me questionar se se sair assim à rua estarei a pedi-las. Imaginem um mundo em que posso usar um decote do tamanho que eu bem desejar, sem que isso ponha toda a gente a questionar a minha integridade moral. Imaginem um mundo em que posso estar com o número de pessoas que eu quiser, sem isso fazer de mim uma mulher indecente, "suja". Imaginem um mundo em que ensinamos os homens a não violar, em vez de ensinarmos as mulheres a não ser violadas.


Ser mulher tem um custo. E é caro. Mas, meu caro, se me dás flores, eu não te devo um beijo. Se me levas a jantar, eu não te devo sexo. Eu não te devo nada. Mas aparentemente, ando a pagar uma dívida (que não contraí) meramente por existir.


Ser feminista não é sinónimo de mulheres > homens. É sinónimo de mulheres = homens.


Se acham que é a palavra que está mal na essência, porque sintaticamente coloca o género feminino num patamar superior, então chamem-lhe o que quiserem. Feministas, humanistas, o que desejarem. Não é o nome que importa – é tudo o resto. E o facto de, em 2016, num movimento inteiro, a única coisa que se focam em debater é o título e não o conteúdo, responde à minha primeira pergunta.




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