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A era de Gentiloni


Paolo Gentiloni é, desde domingo, o novo Primeiro-Ministro italiano, dado que aceitou o convite do presidente italiano, Sergio Mattarella, para formar governo. Gentiloni, de 62 anos, foi ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Matteo Renzi (que agora substitui após a demissão de Renzi, oficializada na passada quarta-feira, dia em que se deu a aprovação do orçamento de Estado para 2017 pelo Parlamento. A demissão foi anunciada no dia 4 dezembro e desde logo dada como inevitável, depois de mais 50% de eleitores ter dado um "Não" ao governo de Renzi). Tido como um elemento chave dentro do Partido Democrático (o partido a que também Renzi pertence), sendo também membro da direcção actual do partido.


Considerado pela oposição uma cópia de Renzi, "Gentiloni é o avatar de Renzi" disse Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S),"É a marioneta da marioneta Renzi" afirmava Giorgia Melloni, líder do movimento de extrema direita Fratelli d'Italia. A oposição foi unânime ao declarar que não reconhecia particular legitimidade ao novo líder de governo e que insistiam na ida às urnas, tal como Theresa May, Gentiloni vê-se abraços com uma perceptível falta de legitimidade por parte da oposição, mas que não deverá ser problema gravoso. Sabe-se que a estratégia do presidente e também a de Renzi é a da escolha de alguém com um perfil discreto, uma tentativa de acalmar a oposição e continuar parte do programa de reformas que Renzi tem ainda debaixo do braço. Na imprensa, o novo primeiro-ministro italiano é visto, pelo jornal La Repubblica, como “o ideólogo do renzismo que preferia a segunda linha”, já o diário La Stampa, destacava o facto de ser apenas "um entre outros", com um perfil reservado e de bastidores, já outros títulos informavam que este era um amante de "ópera, um bom vinho, ler e jogar ténis", é impossível não sentir alguma empatia com o sucessor de Renzi.


Sobre a nomeação, o próprio dizia que esta é "uma grande honra. Procurarei executar esta tarefa com dignidade", apesar de ter aceite o convite "com reserva", sobre os objectivos para o seu futuro executivo, destacou "as prioridades internacionais, económicas, sociais, a começar pela reconstrução das zonas atingidas pelo terramoto" (recorde-se que nos últimos meses os italianos foram saqueados por três sismos, o primeiro a 24 de Agosto em Amatrice, e os outros dois a 26 de outubro), outro dos desafios que sublinhou foi o de "chegar a novas regras eleitorais", reafirmando a necessidade de se chegar a uma harmonização da lei eleitoral (um pouco à semelhança do sistema eleitoral grego, o partido mais votado tem a possibilidade de aceder a uma bonificação que lhe confere mais deputados na Câmara dos deputados, o problema reside no facto de a Lei de 2015 que atribui esta bonificação não abranger o Senado, facto que dificulta em larga medida o desbloqueio de reformas) e que sem a mesma, Itália pode vir a revelar-se mais ingovernável do que na atualidade.


Paolo é olhado pela generalidade como um político de segunda linha, apoiante de todos os líderes do centro-esquerda. Analista e "cuidador" da política de comunicação da esquerda italiana (e das lições anglo-saxónicas), sente-se mais à vontade a aproveitar os seus conhecimentos e as suas análises em prol dos outros. Um influente conselheiro, portanto! Formado em Ciência Política pela Università di Roma, começou a sua atividade profissional como jornalista, chegou a trabalhar na "Pace e Guerra" e foi diretor da publicação mensal do movimento ecológico Legambiente, "La Nuova Ecología". É um dos fundadores do "La Margherita" (partido de centro-esquerda e que em 2007 passa a integrar a grande coligação, entretanto formada, que é hoje o Partido Democrático), desempenhou ainda funções como deputado entre 2001 e 2006 por Piedmont, entre 2006 e 2008 foi Ministro da Comunicação no Governo de Prodi (primeiro-ministro entre 2006 e 2008, e antigo Presidente da Comissão Europeia entre 1999 e 2004). Desde a saída do governo que manteve as funções como deputado no parlamento eleito por Lazio. Antes de assumir funções como deputado, dirigiu a campanha eleitoral de Francesco Rutelli, ex-presidente da Câmara de Roma.


A escolha de Gentiloni é um alívio. Para a União Europeia, que preferia um governo de continuidade, tem agora asseguradas as obrigações a que Itália estava sujeita, uma vez que não há para já um assalto ao poder por parte de Beppe Grillo. Para Mattarela, é a estabilização política desejada. Para Renzi, é a possibilidade da reversão do disparate de associar a um referendo que propunha uma das maiores reformas constitucionais a sua permanência no governo, apesar de a mesma ser necessária (dado que previa a retirada de poderes ao Senado, facilitando em muito a passagem de reformas). O pragmatismo e a inteligência de Paolo Gentiloni será, particularmente útil na hora de resolver os problemas de Itália. Até 2018 há muito para fazer...


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16ª Edição Revista Pacta

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