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ALEPO – O ANTES, O DEPOIS


Alepo é a maior cidade da Síria.


Considerada património mundial da UNESCO pela sua característica arquitetura, desde 1986, onde 20 a 30% dos seus 5 315 000 habitantes (estimativa de 2008) são (ou eram) cristãos.


Antes da guerra se instalar, a população síria queixava-se da elevada taxa de desemprego, opressão política e corrupção, e as mais simples manifestações fundamentadas, transformaram-se em ódio e vazio.


Há 4 anos, a Síria declarou guerra civil e apontamos para cerca de 400 mil vítimas mortais até ao momento, vítimas de tortura e cidadãos que se viram obrigados a fugir do seu próprio país.


ERA a casa de muitas famílias.


ERA património protegido.


Imaginar uma cidade sem cor, onde o desespero, o constante bombardeamento e a ameaça à vida são a realidade dos que sobrevivem aos ataques, leva-nos a questionar, nós que vivemos uma realidade dispare, de que forma podemos ajudar. Leva-nos a questionar onde estão os filtros nas fotos de perfil do Facebook e onde estão as imagens “Pray for Alepo” desta vez. Não foi um ataque terrorista, é uma cidade inteira que vive do terrorismo.


Vídeos de “últimas mensagens” são partilhados nas redes sociais e notícias de suicídios como irónico “escape” às malícias que invadem todos os dias, mais um quilometro de território Sírio, só representam a vulnerabilidade daqueles que tentam exercer o seu direito de viver e é novamente perante este cenário que nós questionamos a própria natureza do Homem.


Não há nada que justifique agressões sexuais ou assassinatos em praça pública de crianças inocentes. Não há nada que mova estes comportamentos senão o ódio. Nem há ninguém que possa impedir mais um dia de sofrimento a todos os habitantes de Alepo, enquanto a única resposta à violência, for mais violência.


Os ataques a esta cidade são diariamente divulgados pelos media e comunicação social. A imagem de Omran chocou o mundo. Uma criança que sem dizer uma palavra falou por todos os cidadãos Sírios. Foi mais uma bomba.


Mas tudo isto é informação repetida e até aqui não há nenhuma novidade.


Haverá forma de ajudar? Uma forma sustentável de ajudar?


Caminhos destruídos, territórios cercados e inocentes usados como escudo impossibilitam alternativas à ajuda humanitária. Somam-se os apelos à intervenção de organizações médicas e, dentro dos possíveis, todos tentam ajudar e garantir que os recursos necessários chegam ao destino.


Eu confesso que não tenho mais palavras para descrever o massacre que se vive em Aleppo. Não tenho nada que já não tenha sido dito. A única coisa que tenho é um sentimento amargo de revolta, impotência e confesso, pouca coragem. A coragem que todos os voluntários tiveram para apanhar um avião e ter os pés naquela terra cinzenta, que eu não tenho, arriscando a própria vida.


Ouve-se falar em cessar-fogo e até circulam alguns vídeos de comemorações. Mas as consequências destes anos de guerra são muito maiores que qualquer vitória que dela advenha. Não serão esquecidas as crianças inocentes, as mulheres capturadas, os homens abatidos, as casas destruídas, os meses sem água e sem comida. A guerra vai continuar dentro de cada Sírio que não tem para onde ir e que perdeu a sua família.


É fácil ignorar o que é feio e o que se passa por este mundo a fora quando sabemos que pode mexer connosco. Ninguém gosta de sentir desassossego, mas acredito que às vezes é necessário ter consciência das diferenças à nossa volta. Aprender sobre política, economia e história. Saber o porquê, a cultura e os interesses por trás de cada decisão. Ação gera reação e se eu preferir, se eu escolher informar-me sobre o que se passa no mundo, eu vou aprender e vou conseguir ter uma conversa sobre esses temas; vou crescer, vou estar mais atenta, não vou deixar que opiniões me influenciem, vou ter visão e espírito crítico.


Alepo, tinha palácios e mesquitas, tinha jardins e tinha cafés.


Hoje Alepo é pó e sangue, e o reflexo do extremismo.



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