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As fábricas da informação


“Propaganda is to a democracy what the bludgeon is to a totalitarian state” - Noam Chomsky


Os media são um sistema de comunicação de mensagens e símbolos para a população geral. A sua função é entreter, informar e inculcar nos indivíduos os valores, crenças e códigos de comportamento que os irá integrar nas estruturas institucionais da sociedade. Pergunto se, num mundo de cada vez maior concentração de riqueza e conflitos de interesses, não estaremos cegos ao perigo que isto representa.


Podemos dividir os condicionalismos dos media em 3 filtros: Procura do lucro, patrocínios, pressão por parte de interesses.


O principal papel dos media é o de informar o comum dos cidadãos, com objectividade e sem parcialidade. Infelizmente, com a necessidade em manter os jornais a circular, estes estão cada vez mais dependentes das regras do mercado, ou seja, em nada diferem de uma empresa de, por exemplo, pasta de dentes, no sentido em que se regem pela necessidade de vender e garantir visualizações e não pela defesa do interesse público.


Os patrocínios (anúncios) são a maior fatia de lucro dos jornais e revistas, o que, à primeira vista, parece uma relação com benefícios mútuos e simbiótica, dentro da lógica de mercado, mas basta apenas analisar a questão durante 3 minutos para nos apercebermos que o dinheiro, que é canalizado das empresas para os media, vem sempre com condicionalismos acrescidos: não se pode prejudicar os interesses dos parceiros, a imagem dos mesmos tem que estar intocada, fazendo dos media a sua segunda empresa de relações públicas, subvertendo assim o papel de contra-balança.


A pressão, por parte de interesses, articula-se com a obsessão em manter o lucro. Quando falo de interesses, refiro-me a qualquer género, sejam privados, de grupos, indivíduos ou até públicos. A pressão, perseguição e censura não-coerciva abundam em regimes democráticos onde a coercividade não funciona, mas as ameaças de exílio social e político são extremamente eficazes.


Lamento que o público em geral não veja a ameaça à democracia que isto representa, pois o controlo do fluxo de informação e o tom de como a mesma é transmitida influencia a opinião pública, divide-nos, cria agendas, exclui outras menos “pertinentes”, controla o debate e, por sua vez, manipula as conclusões.


Ora, vejamos bem que grupos controlam os media em Portugal. Existem 4 grandes grupos privados que controlam sensivelmente 80% da informação que nos é transmitida, os detalhes encontram-se no quadro de informação. 80% da informação transmitida em Portugal é controlada por interesses privados, desconhecemos as suas agendas, a única certeza que temos é a sua procura pelo lucro, que por sua vez, se traduz na procura de parceiros financeiros.


A democracia constrói-se de consentimento, mas existe todo um processo à priori, processo este que implica a informação do eleitorado de todos os factores envolventes na eleição dos seus representantes. Essa informação tem que ser disseminada de forma imparcial e justa, esta é um dos pontos basilares do contrato social, a escolha livre e informada dos seus cidadãos, livre de condicionalismos por parte de interesses.


Podemos, então, confiar os nossos meios de comunicação - que supostamente desempenham o papel dialético aos interesses privados - nas mãos de 4 empresas?


O CM, que é actualmente o jornal mais lido, não passa de um jornal glorificado, sensacionalizando a informação, distorcendo e manipulando-a de maneira a apelar ao lado emocional do público, este modelo não informa ou treina a capacidade crítico-analítica dos seus leitores, apenas serve como uma ferramenta de manipulação e escravidão emocional, esquecendo pequenos detalhes e factos, de maneira a servir a sua própria agenda. Eles criam um caleidoscópio à população, fazendo-a ver o mundo da forma como ELES a retratam e como ELES a definem.


Em Portugal pode parecer que esta problemática não nos assiste, mas é preocupante observar a concentração do poder de informação nas mãos das elites ricas, que não têm em mente o bem-estar público, mas apenas os interesses deles e dos seus.




Não tenciono apresentar modelos alternativos ao funcionamento dos media, mas acredito que este tema mereceria ser mais debatido, infelizmente, as mesmas plataformas em que podem ser debatidas são controladas por interesses que não beneficiariam desta discussão.


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