"Errare humanum est" - "Errar é humano"
Vivemos na era da informação. Vivemos num tempo onde com o simples tirar de um pequeno paralelepípedo do bolso, é nos permitido acesso a uma biblioteca maior do que vasta Biblioteca de Alexandria ou a infindável Library of Congress em Washington - acesso a toda a informação, fruto de todo progresso e conquista humana até aos dias de hoje, algo que tem o potencial de nos ajudar na saga individual de cada um - ao nos garantir a possibilidade de cada um de nós, a seu belo prazer, eruditos tornar - um homem/mulher ideal do renascimento.
Ora é aí que se põe o grande senão à questão: é numa era onde verificamos o melhor acesso à informação em toda a história, escrita, humana que nos deparamos com uma das maiores desinformações das massas, expresso no que dizia Charles de Tocqueville: "quando o passado não ilumina o futuro, o espírito vive em trevas" - quando se verifica, por muitos cantos e recantos desta nossa casa colectiva, casos de memória curta colectiva, como por exemplo o do Egito, que dois anos após derrubado um autocrata de punho de aço com luva de pele, Hosni Mubaram, elege um autocrata de punho de aço, o Marechal Al-Sisi; como é caso das Filipinas, um país que viveu muitos anos debaixo do jugo da ditadura do populismo, uma forma de despotismo (não) iluminado, imposto pelo reino de Ferdinand Marcos, decide eleger alguém que promete abertamente iniquidades que Marcos não ousaria aquando da sua eleição; como também é o caso da Roménia, um país subjugado a 40 anos de ditadura Ceausescu e mulher, marcada pela vil e acima de tudo, corrupta tirania, que foi a raiz de toda a pobreza que hoje assola um país de imenso potencial humano, que decide votar por uma solução de Governo, encabeçada pelos Sociais Democratas - que dá ideias novas além de corrupção à la carte: Ceausescu 2.0, pouco tem.
No cerne da anterior questão deparamo-nos com o grande problema e grande vício, principal meio da perversão do juízo: a manipulação. Algo que em dias passados teria de passar forçosamente pelo escrutínio e implacável pente de terceiros, como por exemplo os media - hoje torna-se incrivelmente fácil: sendo possível colocar uma fachada de humanismo, honestidade e até naivité em mentira, calúnia e dissimulação. Basta olhar para qualquer ato eleitoral destes, passados anos, do Egipto, Filipinas e Roménia, como também para os grandes atos eleitorais deste passado ano, Referendos Inglês e Italiano, Eleição Austríaca e Americana, até a nossa eleição Presidencial, para se estudar este elegante, aliciante, ludibriante fenómeno. Falo do fenómeno social media.
Trata-se de uma forma completamente nova de livre informação, uma ideia ingenuamente boa, mas que na pratica só, em muitos dos casos serve para desinformar, uma ferramenta e agora ao acesso às máquinas eleitorais, que usam e abusam da natureza selectiva do homem - que face a uma 'saturação' de informação: onde todos os dias é inundado o telejornal com atentados de bomba em Kabul e Bagdade, Guerra sem parar na Síria, a grande praga do século XXI, o Daesh, no seu iníquo e desconcertante avanço e conquista - muito vem a confirmar o que dizia Oscar Wilde, a prevalescência do "Homem que sabe o preço de tudo e não sabe o valor de nada". Ou seja, a banalização da desgraça, de mão dada com a banalização da ignorância.
Trata-se da exponencialização da natureza humana de se formar cliques, grupos de interesse - como foi a rivalidade do clique Tongmenghui de Sun Yat Sen e do clique Beiyang de Yuan Shikai, durante a revolução republicana Chinesa ou até a Rivalidade entre o partido Federalista e o Democrata-Republicano, aquando da Revolução Americana - e a subsequente criação de todo o tipo de verdade selectiva, desde o 'spin doctoring' da verdade, à criação de verdades paralelas e opostas - algo que marcou ambos os lados beligerantes da Eleição Americana.
É nesta esterilização da verdade e banalização da mentira que, nos anos 40, se viu o advento do Nacional Socialismo e Imperialismo Japonês, nele que se sustentou os regimes Estalistas e Maoista e até aos dias de hoje, o regime Kim Il Sung - tudo num clima de ignorância e de falsa informação (é de notar que o líder Norte Coreano é para ser sempre tratado como Deus); num clima de saturação e de manipulação. A panaceia aqui é bem simples, a educação.
Por educação não me refiro a atual concepção de educação falhada Ocidental, mas advogo o renascimento da educação que promove o pensamento crítico e não empurra o dogma, que promove a flexibilidade mental e não promove a ossificação do pensamento. Um sistema, que à semelhança do Japonês, promova em igual medida o treino, não só do IQ, como do EQ, inteligência emocional, e formação, desde jovem, do Caráter - a fim de se poder solucionar a política, tal como Adam Smith propôs aprimorar o capitalismo - através da educação da escolha de consumo, quer de um produto para o capitalismo, quer de uma política, a bem da Democracia Constitucional.
Espero que da Democracia não se faça um mero locus minoris resistentiae.