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Auroville, Cidade do Amanhecer

“ Auroville wants to be a universal town where men and women of all countries are able to live in peace and progressive harmony above all creeds, all politics and all nationalities. The purpose of Auroville is to realise human unity”.


Auroville nasce a 28 de fevereiro de 1968, um ano bastante controverso para todo o ser que se considere humano. A Primavera de Praga, guerra do Vietname, ascensão de vultos autoritários como Saddam Hussein e outros tantos no plano mundial serviram, neste ano especîfico, para criar as condições necessárias ao aparecimento dos chamados “novos humanistas” (sub/contracultura hippie) e a sua mobilização em massa contra as causas da instabilidade que assolavam o mundo.


A descrença na racionalidade dos governos em geral e o uso da população de forma instrumental, culminam nas famosas revoluções contra a guerra do Vietname, nos Estados Unidos da América e na propagação em todos os âmbitos culturais e sociais dos ideais hippies para lá das suas fronteiras. Mediante todos estes factos preambulares e todo o contexto social ao nível global da altura, nasce Auroville (que é considerada por muitos como a casa da união humana e da liberdade pura).


A Cidade do Amanhecer mantém-se hoje fiél às suas origens prevalecendo os valores que a fundamentam: Auroville não pertence a ninguém em específico, mas sim à humanidade no seu todo. Para lá viver é necessário ter uma vontade incessante de servir o próximo; é o lugar do progresso da aprendizagem eterna e da juventude que nunca envelhece; a ponte entre o passado e o futuro. No fundo, um recanto de pesquisa espiritual e material para a construção de uma unidade humana.


Mas afinal o que é Auroville? Será possível, no século XXI, vivermos sem dinheiro, governo, ou religião?


Em Auroville esta é a única maneira possível de viver. Este sistema, por muitos considerado utópico, é baseado numa cooperação extrema e num sentimento de pertença a algo maior que uma classe social ou profissão, por exemplo. O dinheiro que possui advém das doações de terceiros ou de fundos arrecadados para o bem geral da sua população de pouco mais de 50,000 pessoas oriundas de países de todo o mundo, parte dele surge também do apoio da UNESCO que reconhece a missão de Auroville como benigna e necessária; a política é bastante personalizada e construtivista, dando bastante enfâse ao papel do cidadão e à sua opinião como elo de ligação entre o “eu” e o “nós”, não existindo assim um governo central. Toda a atividade política é centrada no Matrimandir, edifício central que abrange todas as vertentes imagináveis - cultura, espiritualidade, política, festividade – que alberga as reuniões diárias de todos os seus habitantes; e, por fim, a espiritualidade é exaltada em detrimento da religiosidade, sendo aceites as mais variadas crenças baseadas no humanismo ou até na mística pagã.


Para alguns pode ser a primeira vez que leem sobre a “utopia de Auroville” mas, garantidamente, suscita algum interesse em cada um de nós ver que o que tomamos como garantido pode ser posto em causa e tornado impraticável ou sobreposto por uma nova alternativa.


Para os mais interessados, viver em Auroville não é algo fácil, são precisos 3.000€ (para poder residir) e a aceitação por parte do resto dos seus constituintes. Deve ter um ofício, sendo que as artes são extremamente valorizadas e a agricultura é um pilar basilar ao seu funcionamento. Mas a pergunta que impera resume-se a: Será Auroville um exemplo de que o Mundo precisa restaurar a unidade humana? Ou será que no mundo atual, seria impraticável aplicar o seu conceito a uma escala maior? Atrevo-me a acrescentar: será esta unidade humana uma ameaça aos interesses dos detentores do poder mundial e por isso tornada, através de códigos morais construídos, impraticável?


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