A imperatividade da acção
Homero dividia, ao longo da sua obra literária, tinha duas ópticas da estratégia - para o ultrapassar de obstáculos e para a resolução de desafios que se afigurem - por um lado, na sua obra "a Ilíada", descreve a aplicação da bruta força no teatro de guerra, o recurso à Bîe quando todos as outras cartas, que se colocavam a Aquiles, que após Zeus desimpedir a intervenção divina, com ira e remorso, declara a implacável e impiedosa guerra aos Troianos - que ao longo do rio Skymandros, sofrem um desprezível e vil fim, à mão da instrumentalização da bruta força por Aquiles.
O outro meio pertinente - igualmente basilar à arte da condução da política, quer nacional, quer internacional - a Metes, a arte da negociação e táctica, instrumentalização da táctica na diplomacia, que é por Homero, na sua igualmente memorável obra, a Odisseia - onde pela liderança sagaz e perspicaz de Odisseu, os Gregos cavalgam uma reviravolta na infindável e custosa guerra de Tróia.
Não obstante, no Mundo contemporâneo observou-se um desproporcionado enviesamento para o uso, quase exclusivo, para o recurso ao Metes. Embora idealmente possa esta assimetria parecer algo de positivo - parecendo ser a diplomacia a arte da paz em detrimento da arte da guerra que é a bruta força - é no atual Mundo, onde a Diplomacia perde o seu carácter imediato, onde a perspicácia, ágil e célere disputa de recursos e avanço de interesses é substituída pela morosa, retardada e muitas vezes inerte, digressão de alheamentos à concreta realidade em disputa, enquanto essa mesma - debaixo do jugo da anarquia Mundial - se desmorona de volta de si, dentro de um cerco dá muito aclamada 'Comunidade Internacional', que de comunidade pouco tem, representado pelo estéril e melindroso Conselho de Segurança da ONU, algo com desígnios ambiciosos de paz, mas cuja realidade deságua na mencionada lenta e inadequada delegação para o futuro dos problemas de hoje.
Trata-se de uma relegação de resolução de disputas a um método desvirtuado de si mesmo - característica mor no panorama Internacional, que se provou perigosa, quando praticada pela Europa, no período do Congresso Europeu - onde da falha na resolução imediata de fúteis disputas, quer pela espada de Aquiles ou pelo engenho de Odisseu, se acendeu, da pistola de um humilde maçom do nome de Gavrillo Príncip - a mais sangrenta e bárbara guerra que a humanidade alguma vez expectara. O mundo de hoje, em incomensurável medida, se assemelha à Europa Congressista, quer pelo sobejo de atritos e tensões resultantes de inúmeros conflitos congelados, o caso paradigmático da Síria e Iraque - quer pela preponderância da Diplomacia inerte e inútil, que tenta, de mãos atadas, assinar pela paz inconcretizável e inalcançável. Trata-se de um Mundo que recusa resolver obstinadamente e deliberadamente os seus problemas, que no seu acumular, comprometem o futuro do único lugar que a humanidade teve a honra de conhecer como casa.
Torna-se cada vez mais imperativo - com o ressuscitar de Príncip em Mevlüt Altıntaş, que no assassinar do embaixador Russo Karlov, por muitos alardeado como o repetir do passado - um presságio a uma grande explosão da pressão dos tensos dias que se vivem hoje - quer pelo continuar de uma infindável guerra civil Síria ou da silenciosa guerra civil do Sudão do Sul - que embora, felizmente não eclodiram com esta repetição de Pricip, são uma bomba relógio, um volátil cocktail molotof de guerra, que com cada atentado, quer lá, em Alepo, quer cá, em Berlim, lentamente e inexoravelmente caminham para uma violenta explosão.
Dizia Bill Keane que o "Ontem é História, o Amanhã um mistério e o hoje um milagre divino - razão a qual é denominado de presente", torna-se imperativo que - para o amanhã não se revele fatal, para que a inação não seja o rastilho que ecloda o barril de pólvora que se gerou - se restabeleça o bom senso da acção: a obstinada, arrojada e vincada diplomacia com o recurso último à arte da guerra - em detrimento do refúgio na inação e passividade do "politicamente correcto".
Torna-se imperativo jogar pelas regras de um Mundo onde reina a anarquia - abraçar a possibilidade do perigo no curto prazo - em detrimento de hipotecar a hipótese de um radiante futuro de resplendor, por uma infindável manutenção de guerras frias que só aproximam a nossa casa do precipício.
É importante lembrar o que dizia Sá Carneiro: "a Política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha" - sendo entendida a guerra por Claus Von Clausewitz como a "continuação da política por outros meios", é vital que se faça política com alma e vigor, ética e iniciativa - recorrendo preponderantemente a meios de paz, só em último recurso, recorrendo aos meios bélicos - quebrando o vergonhoso status quo, o ciclo de inação imoral - a fim de se evitar mais proféticos episódios de repetição de gravosos erros passados, como a infâmia do passado dia 19.
-O tempora, o mores!