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Uma má ideia de Voluntariado


Todos os dias um grande número de pessoas inicia projetos de voluntariado ou participa em ações voluntárias pontuais (importa diferenciar ambas as situações), procurando novas experiências, atividades enriquecedoras e uma maior participação cívica. Ainda que, acredito, em todas estas ações o fundamento e a intenção sejam as melhores, a verdade é que muitas vezes acabamos por “desajudar” ao invés de criarmos algum impacto positivo…


Primeiro, distingui ”voluntariado” de ”ações voluntárias” porque o voluntariado necessita de uma componente essencial que o define, o compromisso, ou seja, o facto de se realizar uma atividade por um período de tempo de forma regular e constante. Uma vez por semana, por exemplo. Ao passo que uma ação voluntária pontual é, como o nome indica, pontual, não se estabelecendo nenhum compromisso entre o voluntário e a organização/comunidade, se eu, por exemplo, dedico um dia do meu ano a ajudar uma causa não estou a fazer voluntariado, mas sim a contribuir com uma ação voluntária. Este compromisso deve ser levado em conta pelo voluntário, como se de um contrato se tratasse e onde este assume direitos e deveres para com a sua função.


É também através deste compromisso que se potencia a verdadeira transformação pessoal, no voluntário, e social, na causa que este contribui.


Para além desta característica, o voluntariado deve ser sempre acompanhado de uma formação específica para o voluntário, que permita que este realize o seu trabalho de forma consciente e com as competências necessárias. Tenho assistido cada vez mais ao surgimento de “grupos” de pessoas que juntam para, por exemplo, distribuir comida nas ruas aos sem-abrigo, sem terem a mínima noção de como lidar com esta situação ou sem antes terem refletido sobre o impacto que estão a produzir. Não digo que esta ajuda não seja necessária, importa é que seja enquadrada junto de alguma organização que trabalhe para além desta ajuda de primeira instância, o que nem é fácil de se encontrar, por exemplo, em Lisboa. Só assim poderemos estar a contribuir para uma intervenção contínua e que possa produzir resultados a longo prazo sem ter um efeito perverso e promover o empoderamento, ao invés de um acto isolado de caridade. Esta questão levanta ainda mais problemas quando se trata de voluntariado internacional, mas sobre isso falarei numa outra oportunidade.


Outra questão que acho premente, o voluntariado nunca deve substituir o trabalho de um profissional qualificado ou de uma organização/instituição que esteja já a trabalhar nessa área, dessa forma estamos a desconstruir um processo que possa estar a ser feito ou um plano que tem vindo a ser executado. Desta forma o voluntariado deve estar devidamente, diria até, estrategicamente, enquadrado no trabalho dessa organização, como um complemento.


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16ª Edição Revista Pacta

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