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Natal à moda da Maria


Sinto que o Natal é aquela altura do ano que marca toda a gente, mas de formas muito distintas. Uns porque sabem que vão ter a família reunida, outros porque esperam o Pai Natal, outros porque regressam à terra que os viu partir, para outros é só mais um dia que passa e para mim, é dos meus dias favoritos do ano. Acredito que assim o é porque cresci rodeada da euforia que esta época gera e porque a minha família sempre lhe deu muita importância.


Lembro-me de ser pequena e ficar entusiasmadíssima com os anúncios de brinquedos que passavam na televisão, isto significava que o Natal estava à porta e eu ia ter mais uma oportunidade de apanhar o Pai Natal em flagrante. Já que me portava bem o ano todo, queria ter oportunidade de contar, em primeira mão, ao senhor barrigudo, de barbas brancas, que havia de descer pela minha chaminé, que merecia umas prendinhas. Assim sendo e como já em criança eu era exímia na arte de fazer planos, os quais na altura eram para dar de caras com o Pai Natal, eu escondia a máquina de filmar na sala, apontada para a lareira, eu acordava a meio da noite para ver se o via a deixar as minhas prendas, eu pedia para dormir na sala e ouvia sempre a mesma resposta “o Pai Natal só vem cá a casa quando estiveres a dormir” e então, eu chegava sempre tarde demais. Ele já tinha bebido o seu cálice de vinho do porto e comido a filhós, já me tinha deixado as prendas junto ao sapatinho, que eu havia deixado posicionado estrategicamente na noite de 24 e já me tinha deixado uma carta na árvore de Natal. Carta essa que eu sempre achei ter uma letra muito semelhante à da minha prima. Lembro-me tão bem da euforia que era acordar às 9h da manhã, de dia 25, beber o mais rápido possível a minha caneca de leite com chocolate quente e correr para abrir as portas da sala em direção aos meus presentes. Hoje, 10 anos depois, vejo os meus primos desempenharem o papel que antes era meu. É bom ver nas crianças a magia que ainda é o Natal. Porém, fico triste por agora “já ser grande” e saber que toda a magia que existia, não passava de um teatro encenado pela minha família. Agora sou eu que luto contra a realidade. Continuo a deixar os meus sapatos no sítio do costume e afastar-me o máximo possível da sala no dia 24, para que no dia 25, continue a ser uma surpresa as prendas que vou receber. Cresci com um Natal em que a família está reunida e aproveita para matar as saudades, mas há medida que o tempo passa, parece que se vai tornando, cada vez mais difícil, estarmos todos juntos. Há mais sítios a visitar, porque a família cresce. Há pessoas que já não estão cá e deixam um lugar vazio à mesa. São as pessoas que acabas por já considerar família, mas não consegues estar com elas. A magia que era o Natal, com o passar dos anos, torna-se num jogo de cinismos. Num jogo em que todos sorriem à mesa, enquanto comem bacalhau, mas depois, no resto do ano, fica uma espinha atravessada na garganta. Começas a querer reduzir o círculo que te rodeia. Começas a querer ser tu a planear o que, para ti, é o Natal. No meu mundo, o qual ainda vejo demasiado cor-de-rosa, continuo a pedir ao Pai Natal para que seja um dia em que estou com todos os que amo.


Julgo que este será o primeiro Natal, que desejava uma companhia extra, uma prenda surpresa, mas, tal como em crianças, não recebemos todas as prendas que iam escritas na carta e temos de saber lidar com isso. Temos de interpretar o papel de Pai Natal e sermos a prenda que queríamos ter recebido. O importante é sabermos que vamos estar com quem queremos, mesmo que não seja no exato dia 25. Há que levar o Natal onde nós queremos, com quem queremos e darmos a essa pessoa ou pessoas um dia feliz, porque sabem que independentemente de tudo vais lá estar para elas nos restantes dias do ano.


O meu Natal, que sempre foi muito marcado pelas prendas, também me fez dar valor ao facto de estarmos reunidos com a família e sei que, nem toda a gente tem essa possibilidade, portanto, não podemos centrar o Natal nestes dois sentimentos. O Natal pode ser qualquer coisa que te deixe feliz. O Natal pode ser apenas uma mensagem de amor, um abraço, uma tarde no sofá com o amigo, o Natal podes ser só tu, a saber que algures por aí, há alguém que está a pensar em ti e que se pudesse estaria ao teu lado. O Natal é o que tu quiseres, sempre que quiseres. O Natal só não devia ser uma oportunidade, forçada, para sorrir. Há tantas formas de viver o Natal, que histórias é o que por aí mais deve haver. Este é o meu Natal. O Natal à moda da Maria.


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