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A Ditadura do Politicamente Correto

"Se a liberdade de expressão é só para pessoas que dizem coisas que não ofendem ninguém, eu agradeço mas não preciso dela", Ricardo Araújo Pereira.


Nos últimos anos, a sociedade ocidental sofreu o maior progresso da sua história, no que à igualdade se refere. É um facto que há ainda um longo caminho a percorrer nos temas de género, raciais ou sexuais, mas isso não nos impede de reconhecer todo o trabalho já realizado. O aumento dos direitos da mulher e de algumas minorias leva, obrigatoriamente, a uma mudança na cultura popular e na linguagem, quer a nível institucional, quer, também, a nível individual.


O que este artigo pretende expor é a limitação à liberdade, a censura do século XXI, que o politicamente correcto representa.


A expressão é introduzida na cultura popular dos Estados Unidos, nos anos 90 do século passado, principalmente através do New York Times. Embora não haja um significado único da expressão “politicamente correcto”, uma vez que a ideologia de cada um condiciona esta definição, vamos utilizar, apenas com uma intenção explicativa, a acepção neutra que o dicionário de Cambridge nos oferece: Someone who is politically correct believes that language and actions that could be offensive to others, especially those relating to sex and race, should be avoided. O Presidente Obama, numa entrevista recente, deu uma definição alternativa a esta expressão, que dá nome ao artigo: hypersensitivity that ends up resulting in people not being able to express their opinions at all without someone suggesting they're a victim.


Tendo como derradeiro objectivo a defesa e a protecção das minorias, preconizou-se uma linha homogénea de pensamento, com a sua correspondente representação a nível da linguagem. Podemos observar claramente este fenómeno nos media mainstream, quer nacionais quer internacionais. Isto não significa, de todo, o desaparecimento dos preconceitos, mas uma simples mudança na legislação que alterou o discurso dos influencers.


Embora não esteja em causa a validade do objectivo do politicamente correcto, que é a procura incessante da igualdade, somos forçados a questionar até que ponto esta imposição é positiva.


No nosso país, assistimos recentemente a situações em que a liberdade de expressão esteve em risco, devido à ditadura do politicamente correcto. Por representar negativamente os alentejanos, Henrique Raposo viu o seu livro Alentejo Prometido ser queimado em vários sítios e o local da sua apresentação ser alterado, por razões de segurança. Outro exemplo português a que podemos recorrer é o do humorista Rui Sinel de Cordes que, com o seu peculiar humor negro, é constantemente vítima de ameaças, com muitas das suas piadas sendo alvo de polémicas com cobertura nacional.


Se emudecermos todas as opiniões que se afastam desse pensamento homogéneo como poderemos progredir como sociedade? A evolução dos direitos e a sua aceitação colectiva, foi feita, em grande medida, através de debates público, numa arena onde todas as diferentes ideias eram expostas e discutidas e onde a racionalidade levava às conclusões óbvias de que, por exemplo, a homossexualidade não é uma doença ou de que os negros têm exactamente as mesmas capacidades do que qualquer outro colectivo racial.


Uma protecção excessiva das novas gerações à exposição destas diferentes ideias não estará, também, a acabar com o debate? Será que o racismo, a xenofobia, a transfobia ou machismo desaparecem pela simples omissão de ideias heterodoxas na praça pública?


O nosso pensamento não se pode basear em dogmas, em verdades absolutas. Para que uma sociedade evolua, são necessários meios para que estas ideias heterodoxas não sejam silenciadas, mas discutidas. Temos de ganhar a guerra das ideias, a racional, não a da censura, para evitar que estas falácias ressurjam em força.


“Somos todos Charlie” não pode ser apenas uma forma de somar likes nas redes sociais e uma demonstração pública de empatia. Terá de ser, antes, a defesa de um principio básico de qualquer estado democrático: a ideia de que não pode haver assuntos tabus. Não havendo uma incitação à violência, todas as ideias têm o direito legítimo de entrar na arena de discussão, uma vez que os preconceitos enraizados na mentalidade colectiva só poderão ser erradicados através da discussão racional.


"Political correctness is fascism, pretending to be manners", George Carlin.


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