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Revoluções de Ano Novo


Todos os anos, o ano acaba e com ele, achamos que acaba uma parte de nós. Surgem as dúvidas, os planos, as resoluções de Ano Novo. Mas esta vontade de mudar passa tão rápido quanto as doze badaladas, e da mesma maneira que não conseguimos comer a tempo as 12 passas, não levamos estes objectivos pelos 12 meses seguintes.


Prometemos:


Vamos acabar com os cigarros,

vamos acabar com os quilos a mais,

vamos acabar com os distúrbios sentimentais,

vamos parar de adiar o tal jantar com os amigos que não vemos há muito,

vamos visitar mais vezes os pais.


Mas entretanto fumamos, porque é passagem de ano e no dia a seguir porque estamos de ressaca,

e entretanto comemos doces dia 1 porque estamos com a família,

e entretanto ficamos mais umas semanas com o namorado de quem nem gostamos

e entretanto remarcamos para mais tarde o jantar porque temos muito tempo depois

e entretanto já não há pais para visitar…

…e entretanto já estamos em Julho e as nossas resoluções continuam por cumprir.


O único “check” que assinalamos é a rotina.


Passamos pelos meses, uns atrás dos outros, pelo tempo, pela vida… sem parar. Há sempre um comboio para o qual estamos atrasados, um autocarro pelo qual temos que correr. Não reflectimos acerca da vida, apenas a vivemos. As coisas acontecem(-nos) por acaso, sem darmos um passo atrás para ver o panorama completo. E há tantos dias em que o puzzle fica com as peças espalhadas.


Por que é que chegamos a Dezembro e nos propomos a seguir uma lista com items que acrescentamos aos que ficaram por cumprir desde dois mil e troca o passo? Por que é que sentimos necessidade de nos reinventar? É apenas fogo de vista, na realidade não deixamos os maus hábitos – porque nem sequer queremos aceitar que são maus. Ou que são hábitos… Não paramos o tempo suficiente para ter tempo de observar e absorver – a reflexão no espelho não equivale a uma (necessária) reflexão na mente.


Não fazemos introspecção suficiente para chegar ao nosso fundo… talvez tenhamos medo do que possamos encontrar. Quem é que quer explorar-se e descobrir algo que não gosta? Olhamo-nos muito ao espelho, mas será que realmente nos vemos? Será que estamos mesmo dispostos a ser pessoas novas?


Vivemos no que nos é familiar. Aceitamos que o passado é nosso, com tudo de bom e tudo de mau, e esquecemo-nos que o futuro nos pertence, agora, no presente. Temos medo da mudança. Não gostamos do que não conhecemos. Especialmente quando se trata de nós próprios.


Porque não decidimos mudar a 27 de Março? Ou a 3 de Outubro? Adiamos a transformação para alguém que gostemos mais. Deixamos para mais tarde a metamorfose para alguém que goste de tudo em si. A 31 de Dezembro, será que alguém faz um brinde a quem realmente é? Ou usamos o champanhe para saudar quem poderíamos ser? Vamos sê-lo, então, de uma vez por todas.


Nós não precisamos de mais resoluções de Ano Novo. Precisamos de Revoluções de Ser Novo.


“I hope you live a life you’re proud of. If you find that you’re not, I hope you have the courage to start all over again.” ― Eric Roth


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