Ensaio sobre a Beleza
Pensei em chamar a este artigo “Ensaio sobre a Aparência”, depois pensei melhor e decidi chamá-lo de “Ensaio sobre a Beleza” por sentir que, ainda que este último seja um conceito mais lato, este título iria cativar mais leitores. Pois bem, se o leitor está a ler este artigo por se ter sentido “chamado” pelo título, foi vítima de uma simples aparência. De qualquer forma, desejo-lhe uma boa leitura! Questiono-me inúmeras vezes como a aparência é um factor para usufruirmos de determinados benefícios e de como ela é um forte entrave na intervenção social, mas também uma enorme potencialidade para uma intervenção com impacto pessoal e social.
Lembro-me de uma história que me foi contada no meu primeiro ano de licenciatura. Uma senhora sem recursos financeiros, que solicitou ajuda financeira na Segurança Social e para tal vestiu o seu melhor vestido para se apresentar com dignidade. Quando chegou ao balcão da Segurança Social foi criticada pelos que lá estavam por não aparentar precisar de ajuda…
Esta dificuldade de irmos além das aparências é um obstáculo a uma verdadeira interpretação da realidade social e que nos afecta a todos. Experimentemos um teste prático: imagine o leitor que vai sentado no autocarro ou no metro e ao seu lado se senta um homem de fato e gravata com uma pasta de computador. Agora imagine que ao seu lado se senta um homem barbudo e despenteado, com uma camisa suja e as calças rotas. Será que a sua reacção será a mesma em ambas as situações?
São imagens sociais, que, apesar de terem a sua função, ao estarem tão enraizadas em nós, acabam por distorcer a forma como vemos o “outro” e condicionam a visão que temos e têm um efeito perverso do que se pretende com as imagens sociais, um bom exemplo disso é a interpretação que um empregador faz pela simples forma de vestir de um candidato numa entrevista de emprego. Por outro lado, a aparência acaba por ser também um potencial de “empoderamento” da pessoa na intervenção social, como forma de dotá-la de confiança e motivação para atingir determinado objetivo. Recordemos aquele caso, no fim da 2ª Guerra Mundial, quando tropas chegaram aos campos de concentração nazis e distribuíram batons pelas mulheres presentes no campo. Ainda que nos pareça uma ação algo desenquadrada e sem sentido, ela reveste-se de uma importante estratégia, através de um objecto que caracteriza o sexo feminino, para que aquelas mulheres voltassem a sentir-se novamente “mulheres”, com dignidade e confiança para enfrentar uma nova mudança.