Quando for grande quero ser
Quando for grande quero ser farmacêutica, quero ser veterinária, quero ter um carro vermelho descapotável, quero ter uma casa grande com cães, quero ser professora, “quando for grande” quero…
Para uma criança de cinco anos é fácil sonhar e imaginar o que se quer ser. O difícil é “chegarmos a grandes” e conseguirmos ser um terço daquilo que ingenuamente desejávamos. Não digo que seja impossível, mas por vezes nunca paramos para nos questionar se temos aptidão para o mundo das ciências, se conseguimos dar uma vacina a um cão refilão, se temos paciência para aturar um grupo de crianças barulhentas ou se o vermelho é sequer a nossa cor favorita para um carro que, diariamente, nos levará onde precisarmos.
O mundo não é o que idealizámos há uns 15 anos atrás e muito dificilmente, o que hoje idealizamos, se concretizará amanhã. Somos vítimas da mudança e na grande maioria das vezes, esta apanha-nos de surpresa, como se de um susto saído de um filme de terror se tratasse. Às vezes é necessário recuarmos com a nossa palavra, reanalisarmos as situações, incorporarmos outra personagem que nos permita alcançar o que é mais vantajoso para nós ou simplesmente mudarmos o que queremos ser “quando formos grandes”, porque percebemos que gostávamos mais dessa outra opção. Acredito que vamos sempre a tempo de mudar de planos. Descobrir a roupa que nos assente melhor. A profissão que nos realize mais. A cor que mais nos favorece no tom de pele. Não podemos viver presos a uma decisão que tomámos há anos atrás, a menos que esta continue a ser nossa vontade no presente.
Com tanta coisa que gostávamos de ser, alguma devemos conseguir que não nos escape entre os dedos. Pode não ser fácil, pois o fácil também existe para poucos, já o difícil é o caminho que derrota muitos, mas que também faz sobressair os mais valiosos. É tudo uma questão de resistência. Há quem nos coloque logo na meta, quem fique pelo caminho e quem chegue ao fim cansado, mas orgulhoso de si. Trata-se de sermos a pessoa que queríamos ser “quando fossemos grandes”, mas juntar as aprendizagens que obtivemos pelo caminho e aprimorar os nossos instintos.
Todos sabemos que não vai ser fácil, somos muitos para as oportunidades que existem e às vezes, mais complicado que competir com os outros é competir connosco mesmo. Não me parece que escolher aquilo que queremos fazer/ser durante uma vida inteira seja uma decisão que se possa tomar de ânimo leve. Até podemos esquecer este problema enquanto estamos com os nossos amigos, vamos ao café ou andamos ocupados a estudar volumes inteiros, tal como nem sabíamos o que este problema era enquanto decidíamos o que queríamos ser quando fossemos grandes. Mas agora, agora que “sabemos” as opções que temos, as mudanças a que vamos estar sujeitos, as surpresas boas e más que vamos ter, as pedras em que vamos tropeçar, podemos reformular o que queremos ser quando formos grandes ou lutarmos por aquilo que escolhemos ser quando eramos pequenos.