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A droga do consumo

  • Miguel Perdigão
  • Mar 9, 2017
  • 2 min read

Um dos principais paradoxos dos tempos modernos reside na actual sociedade de consumo e no seu modus operandi.


Quando optamos por consumir, desmultiplicam-se inúmeras razões que nos levam a adquirir um bem. Dificilmente poderá ser criticado o consumo de bens de primeira necessidade, uma vez que garantem a subsistência do indivíduo. Contudo, o consumo supérfluo é considerado como desnecessário e dispensável, podendo ser alvo de um certo ceticismo enquanto conduta habitual.


Ao aplicar o rendimento em gastos supérfluos, existe uma segunda intenção bastante clara: o consumo nestes moldes é, essencialmente, uma forma de “anestesiar” a capacidade reflexiva do indivíduo e de questionar a sociedade em que se insere. Enquanto se consome não se duvida e enquanto não se duvida, tudo passa a ser mais facilmente permitido. Poder-se-á falar de um eficiente mecanismo de repressão em que o consumidor, pela sua própria iniciativa, acaba por tomar a decisão de consumir em detrimento de uma actividade intelectualmente produtiva. Sem utilizar a via da força e sem a existência de coação física ou moral, o indivíduo dispõe voluntariamente de quota parte da sua liberdade.


A afirmação da propriedade privada, do mercantilismo e da livre circulação de bens e capitais criou nas massas a ideia de estratificação social mediante a quantidade de bens que uma pessoa tenha em sua posse. Não há raciocínio mais falacioso do que este, pois para percorrer um caminho de felicidade interior é necessário um desfasamento moderado dos prazeres mundanos e um trabalho espiritual a posteriori, que permita ao indivíduo ser verdadeiramente livre. Se a sociedade indica o caminho exactamente oposto e estabelece uma correlação entre os bens materiais e a felicidade, então algo de errado se passa no mundo em que vivemos.


Se prevalece a riqueza material como critério de aferir o status de um indivíduo, então a sociedade padece de uma miopia generalizada. A perseguição de objectivos individuais e o aumento da competitividade no mercado laboral destruiu por completo o último resquício de valores humanistas presentes na sociedade, conduzindo o actual modelo a um festival de egoísmo legitimado pela ausência de valores. Este é o drama colectivo que oprime a sociedade e torna a existência de certas pessoas insuportável neste planeta. Quando a sua vocação não é remunerada de forma digna e se classifica como um “outsider” do actual sistema, essa pessoa vê-se obrigada a vender os seus sonhos e a trocá-los por um salário numa profissão nojenta.


A realidade vence sempre a ideologia e perante a força das circunstâncias, todos nós vergamos para ter pão na boca. Mas até quando vamos sustentar um modelo tão cruel como este?



 
 
 

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