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A Revolução sans culotte

A Revolução sans culotte. A Holanda apresentou-se ontem perante a grande prova dos nove do século XXI - Globalização ou Patriotismo? Porém, na sua vez de subir ao púlpito, a Holanda, utilizando como subterfúgio o facto de possuir um sistema eleitoral compromissivo - tal como possui a vizinha Alemanha, um que para o total detrimento da Inglaterra, primeira Nação Europeia a passar por esta prova de fogo, encontrasse mais dividida partidariamente, mas mais em acordo politicamente - responde difusamente à questão mais premente do século, Pátria ou Globalização.


Geert Wilders, o homem mais odiado da Europa - que usando o velho adágio "All news is good news" como barómetro para precipitação de sucesso, não político ou eleitoral, mas sim em termos de políticas públicas - sai decisivamente vencedor.


Wilders consegue, apesar de comunicar de uma posição tripartidamente isolada - isolado politicamente ao ser conservador no bastião liberal Europeu, isolado socialmente ao ser líder de um movimento político do qual é o único membro (que quer por desígnio ou vicissitude, nunca fará jus à definição de 'movimento', mas sim de 'inércia'), e isolado fisicamente, ao fazer campanha por detrás da escolta policial e por viver, desde o lançar do seu filme Fitna, em Bunkers (algo que Enver Hoxha acharia zeloso ad nauseam) - consegue invisivelmente aumentar amplamente a sua esfera de influência política estratégica, no complicado xadrez político Holandês.


É crucial a percepção de que Wilders não se compara aos outros que comungam da mesma visão ao nível Europeu, de Farage a Grillo, passando por Frauke Petry do AfD a Le Pen, sendo Wilders alguém de uma tradição, tal como é a sua casa, paulatinamente mais liberal - tendo Wilders feito parte do partido do Primeiro Ministro mandatário, Mark Rutte, o VVD até 2004 - quando a questão da acessão Turca à UE se coloca incisivamente na mesa e as posições de Wilders e do VVD divergem.


Em termos de pura politiquice, o mandatário Rutte sai vitorioso desta festa democrática, tendo mantido a sua posição de vantagem comparativa, mas não decidida, quanto às outras forças políticas. Não obstante, como fiz questão de anteriormente lançar o repto, é Wilders que sai vitorioso - pois por um lado, em termos estéticos, consegue fazer de uma eleição que perde em termos nominais, uma onde todas atenções - as 'gordas' de toda a imprensa - se dedicam, maioritariamente injuriosamente - a ele se dedicam. Sucede de modo tal monopolizar o ecossistema político, que uma eleição que vinculará o futuro das mais altas instituições da Nação se prende inteiramente a um só indivíduo, um só partido, que como já referi, a um 'one man army'.


No lado mais sério, ao mesmo tempo que heráldico, da questão, põe-se o facto de que o velho partido de Wilders - do qual sai pela mesma questão que agora se vê por maré de opinião pública lisonjeado a alterar a posição em favor de Wilders, ou seja, a adoção por Rutte - na carta que endereça ao eleitor onde postulou que a imigração passaria a ser mais musculosa, onde o a aculturação Holandesa seria um requisito para a entrada - e do próprio partido VVD, do qual sai Wilders pela mesma questão Turca, veem se forçados a adotar uma posição conivente e coadunante à visão de Wilders.


Na prática, trata-se de uma impressionante vitória moral de Wilders sobre a sua antiga casa Política, onde por dentro não fora capaz de alterar, mas é na condição de 'outsider' - fazendo uso dos meio de comunicação 'par excellence' do Presidente Trump, o Twitter, o seu velho partido consegue metamorfosear.


Num velho caso de 'contar as galinhas antes de chocarem os ovos', toda a linhagem pro Europeia, mal se apresentavam débeis provas de que teriam uma maioria parlamentar tangível, irrompem num acto de exultação precipitado - pois é a celebração de uma vitória com sabor a derrota. É a celebração de uma vitória nos termos políticos de Wilders, onde sub-repticiamente se vêem assimilando uma plataforma alheia aos seus valores liberais basilares: muito subtilmente é posto em causa princípio do livre movimento e multiculturalismo.


É a celebração de uma vitória que bem pode ser o presságio a muitas derrotas no velho continente. Por um lado o que celebram é algo de isolado - a Holanda é um caso distinto, um país de tradição Liberal no seio de grandes potências com uma tradição dirigista - nomeadamente o eixo Franco-Alemão - correlacionar sucesso na Holanda com sucesso no resto da Europa. Já como dizia o celebrado filósofo Neerlandês, Espinoza, "tudo o que é excelente é raro" - ou seja algo assim tão conveniente provavelmente "wishful thinking", uma ilusão.


Por outro lado, uma ostentação excessiva do músculo agora transparecido pelas forças liberais, podendo ele ser bem intencionado, pode bem estrategicamente ter o efeito contrário.


Numa clara demonstração da velha máxima de que 'o caminho para o inferno está pavimentado de boas intenções', por um lado, estrategicamente, as forças Patriotas poderão capitalizar num possível relaxamento das forças Globalizadoras, que porquanto se vangloriam em vitórias marginais. Também, uma ostentação demasiada em vitória, pode bem vir ser um factor de repelência do possível eleitor, que sente o seu contributo como já não sendo necessário e podendo bem passar para o outro lado. Já como dizia Erasmo, "todos odeiam o jovem prodígio" - tendo a velha escola liberal sortido de um grande facelift.


Por outro lado, como bem dizia Espinosa, "o maior orgulho e prostração, regra geral implica auto-ignorância" - uma vitória de Shultz e Macron nas vizinhas Alemanha e França sairá a que custo à rectitude dos seus ideais. Muito provavelmente comungarão Shultz e Macron da mesma linha dura que se viu forçado a adotar Rutte. Muito provavelmente, estando Marine Le Pen seguramente presente na segunda volta, estando o Alternative fur Deutschland presente nos radares tanto do SPD de Shultz, como no CDU de Merkel - passarão como por osmose, durante o debate democrático, muitos dos ideais da linha patriota e alternativa, para a linha Globalizadora, numa tentativa desesperada de não ser escorraçada do poder. A arte da guerra ganha sem ter que ser disputada, como dizia sabiamente Sun Tzu.


Quanto ao Brexit, um possível arrojamento da confiança por parte das instituições Europeias poderá vir somente a precipitar um 'harder' Brexit. Negociar com arrogância o que foi perdido só causará maiores derrotas, o que será do interesse mútuo evitar.


Quanto à "guerra Púnica" Globalização vs. Patriotismo, quem disputará da preponderância política Europeia. Uma conclusão podemos tirar à priori, que uma vitória do 'status quo', como vimos ontem na Holanda, não significa 'business as usual'. Só o tempo dirá.


Manus manum lavat.




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