Ode à lua
Eu podia jurar que sou um ser dependente da tua essência
As juras de sempre pendem para a falta de consistência
Se a tua presença não se encontra presente,
Sinto-me dormente. Enquanto não voltas, vivo em tons de inconsciente
Mais uma insónia numa noite de Quarto Crescente
Crescem medos neste quarto, não distingo o chão da parede
Desejos cadentes que pedem a estrelas sorridentes
Para existir.
É a uma que me confesso, aquela grande e usada
Sacrificada, caracterizada por crateras vincadas
Chamam-lhe Nova, mas ela anda por cá há algum tempo
E é no meio do céu que encontra o seu talento
Ela dá-me uma advertência:
Não te dês mais a esse sexo sem nexo
Não uses mais fugir como reflexo
Andas em fase de abstinência
“Eu? Conto muitos físicos na vivência”
Mas quantidade não é qualidade
E qualidade não é profundidade
E há tantos por aí sem valor, só preço
Não merecem o teu apreço
Aprende:
O corpo é um anexo da alma,
Não é o espirito que se cola ao dorso
É o físico que é acessório do rosto
Ancestral.
Calma, observa,
É um sacrilégio que lhes dês o teu tempo
O meu conselho é complexo mas se estiveres atento
Ele chega aí dentro
Já fui apanhado despercebido e perplexo
Vestido de roupa, mas nu por completo
Não deites mais corpos despidos ao lado dessa cabeça cheia
Não deixes mais gente feia tornar essa cama fria
E fala
Fala da vivência
Fala da dormência
Fala do que te move
Do que te mói
Do que te dói
Do que te destrói
Do que te descreve
Do que é breve
Do que dura para sempre
Do que te faz ciente
Sempre
E aprende
que o teu silêncio
seria um acidente.